(Publicado originalmente em Qua, 12 de Novembro de 2008 21:00)

Confira a crítica do melhor filme de 007, Quantum of Solace. Muita adrenalina, ação,sem poupar o cérebro! O filme se inicia com a repetição da última cena de Casino Royale em que o Agente Bond procura desvendar os mistérios da tal organização criminosa que teria levado à morte sua namorada, Vésper Lynd.

Mais desvinculado do governo britânico, que chega a lhe cortar passaporte e cartão de crédito, o Agente 007, James Bond, nesse seu 22º filme, Quantum Of Solace, de Marc Foster, ganha feição também de anti-herói – mais dúbia, portanto, segundo o figurino dos tempos atuais – e assume, pela temática, posição política, vergastando principalmente o narcotráfico, a corrupção e o comunismo na América Latina.

Ataca também organizações internacionais que, travestidas de cordeiros, defendem altruístas questões ambientais para agirem em proveito próprio nos bastidores – com vistas à exploração de recursos naturais -, comprando a conivência de políticos, da esquerda ou da direita, e de militares, a fim de promoverem constantes golpes de estado em miseráveis paises da região, como o Haiti e a Bolívia livremente citados.

É por isso que essa continuação de Casino Royale, de Martin Campbell, tem linguagem mais direta, violenta, sem fazer uso de metáforas, como era o caso do filme anterior. Utiliza, contudo, o recurso de seqüências sincronizadas para antecipar ou sugerir o que virá nas cenas de ação, que são muitas, intensas, como o público da série gosta. Esse recurso é usado, de início, conjugando imagens do burburinho provocado por uma prova eqüestre, do tipo medieval, pelas ruas de Siena, na Itália, com outras captadas num calabouço, nos subterrâneos da cidade, onde Bond interroga sob pressão um prisioneiro a fim de obter dele informações sobre a organização criminosa a que pertence.

Mas é na segunda vez que o citado recurso é explorado que Forster consegue extrair magnífico efeito visual e dramático da sincronização da grandiosa montagem da Tosca, de Puccini, produzida em estúdio, com a da vertiginosa atuação de Bond nos camarins, nos banheiros e nos camarotes de um fictício teatro vienense. Assim, enquanto, no palco, ao som da música de Puccini, a Tosca apunhala o coração do Barão Scarpia, nas escadarias do castelo de Sant´Angelo, em Roma, o Agente 007 executa, nas dependências externas do teatro, em silêncio, o seu “serviço” contra membros da Quantum, que pretendiam fazer durante o espetáculo uma áudioconferência entre eles.

O filme se inicia com a repetição da última cena de Casino Royale em que o Agente Bond procura desvendar os mistérios da tal organização criminosa que teria levado à morte sua namorada, Vésper Lynd. Os métodos empregados por ele geram, porém, preocupação em M ( Judy Dench ), sua protetora no Serviço Secreto Britânico, que dá conhecimento disso ao Secretário do Exterior ( Tim Pigott-Smith ). Este desaprova a conduta do Agente 007, determinando a suspensão de suas regalias oficiais, o que, entretanto, não o impede de continuar sua missão. Bond vai a uma cidadezinha do litoral italiano, em busca de ajuda de seu amigo Mathis (Giancarlo Giannini) e, animados, mais do nunca, partem ambos para ação.

Se no que diz respeito à direção Forster realiza trabalho digno de nota, baseando-se em roteiro bem elaborado por Paul Haggis (Crash-No Limite), Neal Purvis e Robert Wades, parece que ele não foi tão feliz assim na escolha do elenco de apoio. A começar de Mathieu Amalric, um dos mais requisitados atores franceses do momento após sua estupenda interpretação em O Escafrando e a Borboleta, de Julian Schnabel. Amalric parece não se sentir bem na pele de chefe da Quantum. É a célebre questão do physique du rôle, que lhe falta para encetar a contenda com Daniel Craig, que, tecnicamente, é talvez o mais bem preparado para interpretar o Agente Bond.

Tanto assim que a seqüência da luta final entre ambos, dada a diferença de porte físico entre um e outro, além da desenvoltura de Craig, se não houvesse tanto fogaréu em volta, redundaria em total fracasso. As novas namoradas de Bond – Camille (Olga Kurylenko) e Strawberry Fields (Gemma Arterton) -, embora muito bonitas, não convencem como atrizes. A ucraniana principalmente, um tipo de beleza exótica e de porte elegante, mas que, em momento algum, se identifica com a atormentada Camille, que deseja a todo custo eliminar o general Modiano (Joaquin Cosio), causador da morte de toda sua família.

Mas o trio central do filme – Daniel Craig, Judi Dench e Giancarlo Giannini – compensa as deficiências do elenco de apoio, mostrando-se em atuações irrepreensíveis. As de Dench e de Giannini, embora contidas, discretas e de breve duração, dão embasamento lógico a uma melhor compreensão das razões pela quais Craig encarna Bond, desta feita, mais violento, sem derramar muito charme para o lado das mulheres e sem ter tempo para usar ironias nas frases que dirige a seus contendores, como o fazia no filme anterior.

Desta vez, a máscara de Craig é sempre dura, crispada pelo ódio que leva Bond a uma busca desesperadora da organização que deu fim a Vesper. O que impressiona na atuação de Craig – malgrado sua larga experiência teatral – é a maneira como ele transmite a todo o tempo uma discreta ponta de desconfiança do Agente Bond em relação à namorada: ela o traiu ou não?… O amigo Mathis, nas despedidas, assegura-lhe que não. Que Vesper sempre o amou. E lhe foi fiel. Bond abraça ternamente o amigo, acaricia-lhe a cabeça, mas a dúvida atroz que domina Otelo – ou o nosso Bentinho – continua encravada em sua alma. E ele parte novamente para a ação.,,

FICHA TÉCNICA

007-QUANTUM OF SOLACE
007 – QUANTUM OF SOLACE
Reino Unido/EUA/ 2008
Duração – 106 minutos
Direção – Marc Forster
Roteiro – Paul Haggis, Neal Purvis e Robert Wades, baseado no conto For Your Eyes Only, de Ian Fleming.
Produtores – Barbara Broccoli,Callum McDougall
Fotografia – Robert Schaefer
Música Original – David Arnold
Edição – Matt Chesse

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