Por Helena Iono
A apenas 2 meses da posse de Maurício Macri (“Cambiemos”, direita e neo-liberal) que venceu por apenas 2,7% (equivalente a apenas 700 mil votos) a Daniel Scioli (“Frente para a Vitória”, peronista-kirchnerista), o governo argentino tem acionado uma avalancha de medidas de desmonte do projeto nacional e popular realizado com tanta luta, sob oposição feroz dos grandes grupos financeiros e multinacionais, da oligarquia ganadeira e midiática, nos 12 anos passados da gestão de Néstor e Cristina Kirchner, em sintonia com todo o processo de união dos governos progressistas da América Latina, da Venezuela, Equador, Bolívia e Brasil.

O ministro das Finanças, Prat Gay, reabre as portas ao FMI em Davos, às negociações com os Fundos Abutres de Nova Iorque, aos que já Axel Kiciloff (ex-ministro da economia) se havia negado de pagar os 1608% de juros de dívida. É de causar espanto, a urgência de Macri em aplicar as fórmulas do FMI, do ajuste, das demissões em massa (já 40 mil, dos quais mais de 20 mil na área das instituições estatais). A falsa razão de demissões arbitrárias no Estado, alegando que eram “nhoques” (funcionários vagos), sem comprovação, a jovens trabalhadores, numa evidente perseguição política, é a tentativa de repetição de um filme dos anos 90 que tratou de desmontar o Estado e justificar as privatizações de Menen e F.H. Cardoso no Brasil.

A eliminação do controle ao dólar (deixando-o à mercê da flutuação do mercado), e a exorbitante desvalorização do peso argentino, tem provocado a já prevista e descontrolada alta dos preços, sobretudo dos alimentos (40%). A inflação já dispara a quase 5% em fevereiro (quando a anual de 2015 totalizava 23%). Não entram a avalancha de dólares no Banco central, como dizia Prat Gay, muito pelo contrário, aumenta a fuga de capitais. As exportadoras de carne e cereais, mesmo favorecidas pelo corte a impostos não chega a gerar a entrada de dólares prevista. A liberalização da entrada de 18 mil produtos de importação, começa a destruir a pequena e média indústria nacional, têxtil e de sapatos, já afetada pelo decreto de Macri que elimina o subsídio estatal às tarifas eléctricas, encarecendo-as em 500%. Os trabalhadores pagam isso no boleto, e indiretamente, com o desemprego no comércio e na fábrica que começam a fechar pelo alto custo de produção e falta de mercado. A Argentina kirchnerista que tomava o rumo da ruptura ao cerco da crise internacional, fortalecendo um Estado soberano, arrisca agora uma recessão difícil de vencer.

Os apagões elétricos, dependendo agora plenamente das distribuidoras privadas (Edenor, Edesul), vêm respaldados pelo apagão midiático. O jornalismo progressista, do Programa 6,7,8 da TV Pública, da Rádio Nacional, Victor Hugo Moráles da Rádio Continental, da TV Senado, das TVs e rádios comunitárias, tem sido calado. A “Ley de Medios”, que esteve sob custódia da AFSCA (abolida por decreto junto a seu diretor Martin Sabatella), criada no governo kirchnerista e parcialmente aplicada, para regular o monopólio econômico privado do grupo Clarin sobre os meios de comunicação, está sob ameaça total.

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