A Câmara dos Deputados reuniu representantes dos movimentos sociais do Brasil e do exterior, parlamentares e estudantes para uma avaliação do primeiro ano das manifestações de junho de 2013, que sacudiram as principais cidades brasileiras. O Café na Política foi ouvir três dos principais participantes: o jornalista Pablo Capilé, do Fora do Eixo e da Mídia Ninja, da diretora da ONG Latinobarômetro, a chilena Marta Lagos, e o deputado Vieira da Cunha, líder do PDT, idealizador e promotor do seminário que tomou o nome de “O povo foi às ruas”, realizado no auditório Nereu Ramos, durante todo o dia 26 de maio de 2014.


Na visão de Capilé, “as pessoas deram um salto de consciência” com aquelas manifestações, a partir das quais “os movimentos sociais ficaram mais organizados, sobretudo no que diz respeito ao meio ambiente, os direitos humanos, a comunicação e a cultura”. Perguntado se as manifestações não sofreram um refluxo de lá pa cá, ele as comparou com uma onda que sobe e desce, sendo agora o momento de trabalhar internamente, para depois ressurgir com novas propostas. O saldo para Capilé, de qualquer maneira, foi positivo porque os problemas foram colocados na mesa e que, apesar de o noticiário continuar verticalizado, a internet se mostrou como um grande meio pelo qual as populações marginalizadas possam carrear suas narrativas.

Já Marta Lagos, diretora do Latinobarômetro, organização voltada para medir os níveis de democracia na América Latina, com sede no Chile,  considera que as manifestações , as quais, na verdade, explodiram em outros países desde 2011, obedecem a uma promessa não cumprida de democracia por parte das cúpulas do poder econômico e político. Segundo ela, apenas oito por cento de toda a população latinoamericana de 600 milhões consideram que há democracia plena no continente: “Há uma grande demanda de inclusão social, de mais e de melhor democracia e uma crítica contundente ao sistema de partidos, ao Parlamentos e ao Poder Judiciário”, conclui.

Finalmente, o deputado Vieira da Cunha admitiu que as manifestações de junho representaram um rechaço aos partidos por estes terem negligenciado na representação popular: “Quando os partidos se dissociam dos movimentos sociais”, disse, “algo fica faltando”. Por esta razão, ele justificou o seminário para, juntamente com o PDT, propiciar que os políticos se reciclem, atualizem, reoxigenem e reestruturem”.

Vieira também procurou demonstrar que a questão não deve ficar só no debate.: algumas questões tem que ser logo atacadas. Ele considera, por exemplo, que o financiamento de campanha deve ser democratizado, pois hoje o pode econômico é que define as eleições e a pauta o Congresso: “Basta consultar o site do TSE para comprovar que as campanhas eleitorais são financiadas basicamente pelas empreiteiras e os bancos privados. Aqui, o poder econômico manda. Financia a campanha e depois vem cobrar a conta”.

Outra proposta de Vieira da Cunha para romper o atual statu quo é utilizar os mecanismos de referendo e plebiscito já previstos na Constituição: “O Congresso representa o povo, mas não substitui o povo. Nas questões mais polêmicas, inclusive a Copa, devem ser levadas em formas de perguntas ao eleitorado, durante as eleições que se realizam de dois em anos no Brasil”. E o povo sabe dar sua resposta, enfatizou o deputado, porque “no segundo plebiscito sobre Presidencialismo e Parlamentarismo, deu uma tremenda surra no Parlamentarismo, apesar de ser este defendido pela mídia, os artistas e a elite em geral”.

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